Saturday 5 May 2007

Aflição

Dei comigo a correr
Sem compreender porquê,
Num caminho a descer
Semelhante a um vê.

Corria o mais que podia,
Com um empenho enorme,
Mas de nada me valia,
Mesmo usando uniforme!

Quando olhei para trás,
Nem queria acreditar,
Vinha a todo o gás,
Um homem a praguejar.

Corria atrás de mim,
Em grande velocidade,
Pensei que era o meu fim,
Apesar da pouca idade.

Fiz um grande esforço
Para o reconhecer,
Quase caía num poço,
O que me fez estremecer.

Tentei mudar de direcção
Para enganar o sujeito,
De nada valeu a acção,
Eu estava mesmo feito!

Sufocava-me a aflição!
As pernas ficavam presas,
Não obedeciam à razão,
Eu estava sem defesas!

Então... acordei de repente!
Não passava de um sonho!
Latejava-me a mente!
A medo… abri só um olho!

Dias difíceis

Eu, por natureza alegre,
Sendo raríssimo que quebre,
Hoje, sinto-me perdido,
Parece que fui mordido!

Foi uma cobra terrível,
Que é quase invencível,
Cujo veneno se espalhou,
E já nem enxergo quem sou!

Perdi a minha identidade,
Apesar de já ter idade
De facilmente me distinguir,
E saber qual caminho seguir.

Existem alturas na vida,
Em que ela nos castiga,
Parece nos querer testar,
Ver se conseguimos lutar.

Estou a ser penalizado
Por não me ter adaptado
A esta nossa sociedade
De elevada velocidade.

Onde se perdem os valores,
Limitando-nos a ser actores,
Ignorando os sentimentos,
Optando pelo fingimento.

Porém, nada está perdido,
Apesar de estar ferido!
Amanhã, é um novo dia,
Vou continuar a travessia.

Buscar o antídoto milagroso,
Pois eu mostro ser corajoso,
E sei onde o devo procurar;
Mas... quando o vou encontrar?

Sociedade II

É muita a pressão
Para se ser normal,
Ás vezes, em vão,
Tudo acaba mal.

Há quem não resista
A tanto condicionalismo,
Por mais que insista,
Encontra sempre o abismo.

Afinal, O que é ser normal?
Não será sermos nós próprios?
Isso seria o mais natural,
E não uma cópia de vários.

Ao moldarmos as nossas mentes,
Deixamos de ser autênticos,
Passamos a estar carentes,
Falta-nos o excesso, o caótico.

Para a sociedade ouvir a nossa voz,
Há inúmeros sacrifícios a suportar,
Abdicamos de um pouco de nós,
Mas ela continua a prosperar.

E é sempre esta luta diária,
Levantar cedo e deitar tarde,
À espera que esta vida precária
Melhore, e achemos a felicidade!

Nunca estamos satisfeitos,
Somos difíceis de contentar,
E perante tais defeitos,
Só nos resta aguentar.

Há que tentar encontrar
O equilíbrio perfeito,
Temos que continuar a lutar,
Pois não há outro jeito.

Sociedade I

É bom viver em sociedade,
Sentimo-nos mais protegidos,
Começamos desde tenra idade,
A ter amigos, a ser unidos.

Em pequenos aprendemos
As regras e leis a seguir,
Mesmo se nos debatemos,
Não há muito por onde fugir.

Ela está construída
De uma forma organizada,
Facilitando-nos a vida,
Dando-nos tudo... ou nada!

Quem segue outros caminhos,
E não cumpre todas as leis,
É excluído e tem destinos,
Que, muitas vezes, são cruéis!

Não existe complacência
Com a fraqueza ou infortúnio,
Quem revela carência,
A sociedade pune-o!

Compete-nos a cada um
Escolher o melhor caminho,
Ser um indivíduo comum,
Ou então, seguir sozinho.

Se uma situação é má,
A outra é, claramente, pior,
Mais vale suportar o que há,
Porque é difícil haver melhor.

Temos um preço a pagar;
A sociedade é implacável!
Tornamo-nos um vulcão vulgar,
Mas somos um ser sociável!